Tristes. Os portugueses são tristes. Além de comodistas e pouco empenhados politicamente. Esta é a conclusão que se pode tirar da marcha do orgulho gay (ou Gay pride) que no sábado passado decorreu em Lisboa desde o Marquês do Pombal até ao Rossio. Durante cerca de duas horas os poucos manifestantes desfilaram pacificamente – umas centenas, 1000 talvez, ou pouco mais. Havia pouco público e o desfile nem atraiu a curiosidade dos transeuntes. Eram essencialmente jovens com alguns seniores à mistura. Não havia figuras políticas nem públicas conhecidas. Presidente da Câmara, membros do parlamento, representantes (conhecidos) dos partidos (nem que fosse dos verdes apenas ou do Bloco de Esquerda…)?Nada, ninguém. Eu pelo menos não dei por nada. Apenas alguns representantes da Juventude Socialista, os únicos que empunhavam um cartaz longo, para além de algumas associações (as que organizavam a marcha) e pouco mais. Em vez da Marcha do Orgulho gay proponho que se passe a chamar marcha da tristeza e vergonha gay. Sim, porque em Portugal parece que todos têm vergonha da sua sexualidade, de ser cidadãos ou até mesmo de se manisfestar, de participar, de fazer a festa! Já vi algumas gay prides em algumas cidades mas algo tão triste assim nunca. Os portugueses preferem ir à praia (e no sábado nem sequer podia ser uma desculpa porque não estava tempo de praia), fazer compras, aos shoppings, à ginástica, a casamentos, trabalhar, ficar em casa a ver o Campeonato do Mundo de futebol, tudo menos ir manifestar pelos direitos de uma minoria. Aliás nenhum dos meus amigos participava nesta marcha, todos tinham coisas mais importantes para fazer. Mas muita gente pensava ir até Madrid no próximo fim de semana, para ir aos festejos da Semana da Gay pride madrilena (sim, lá é toda uma semana de acontecimentos). Eu compreendo, os espanhóis sim, sabem fazer a festa como deve ser. E são política e socialmente bem mais empenhados (engagés) do que os portugueses. Há várias justificações possíveis para este fraco empenho político e participação. Poder-se-ia pensar que já houve muitas marchas e que as pessoas estão fartas de manifestar. Não é o caso, apenas se organizam desde 2000. Poder-se-ia pensar que estão fartos de Carnavais e prefeririam algo mais calmo. Nada disso, nada de carros de desfile tipo carnavalesco como em Paris ou noutras cidades, tudo bem pacato (pobrezinho e triste). Poder-se-ia pensar que a minoria em causa já usufrui de todos os direitos sociais que tem reclamado, como por exemplo uniões de facto, casamento homossexual, direito de adopção, que não há casos de homofobia, etc. Nada disso tampouco. Apenas existe uma lei de uniões entre dois quaisquer indivíduos que se pode aplicar a homossexuais mas que não resolve muitos problemas e situações. A conclusão, para mim, é que os portugueses são comodistas e pouco empenhados politicamente.
Como dizia uma senhora, numa loja dos restauradores, em conversa, “os portugueses são assim em tudo, e é por isso que o país está como está. Querem os benefícios e os direitos mas preferem que os outros dêem o corpo ao manifesto por eles, os outros que lutem”. Será por isso que aguentámos estoicamente 48 anos de fascismo? Enfim, cada país, cada cidade tem o Orgulho que merece e parece que os portugueses não têm muito orgulho.Enfim, congratulemo-nos pelo facto de ter sido um marcha calma e pacífica, com pouco aparato policial e que nem sequer atraiu elementos de extrema-direita. Valha-nos isso e o esforço de algumas organizações estóicas, como a Ilga Portugal, as Panteras Rosas, o Clube Safo e a associação “Não te prives”.
Deve-se também salientar a fraca publicidade que os jornais e órgãos de comunicação deram ao acontecimento. No sábado, o jornal Publico dedicava algumas poucas linhas num cantinho e falava sobretudo na próxima Gay pride do Porto, apenas mencionando en passant a marcha de Lisboa. Como exemplo, no domingo o Publico dedicou uma pagina inteira ao tema, mas nenhum título mencionava abertamente da Marcha do Orgulho Gay. Apenas incluía dois artigos, um sobre “Dar visibilidade e resolver casos concretos de Homofobia” (como objectivos de um colectivo denominado “Panteras Rosa”, não como reivindicação da marcha…) Aliás pouco falaram disso! O outro artigo tinha o título “Distrital da JS defende acesso à adopção por casais do mesmo sexo” e nele se falava um pouco mais da “marcha LGBT contra a homofobia e a discriminação”. Muito redutor, quando o lema da marcha era “Igualdade na lei e na sociedade” e os manifestantes reivindicavam o casamento homossexual e o direito adopção.
A “marcha” terminava com uma festa – o “Arraial Pride”, na Praça da Figueira, ali ao lado do Rossio, festa integrada nas festas de Lisboa, como as marchas populares (outras que necessitam renovação). Embora a área fosse pequena essa festa parece que encheu. Parece que os alfacinhas preferem as festas, os comes e bebes, a música, à obrigação de se manifestar politicamente. Valha-nos isso.
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