No Publico de hoje 20 de Março, José Manuel Fernandes, director do jornal, escreve um artigo intitulado “Deve e haver da invasão do Iraque” e, consegue, contra todas as evidências chegar à conclusão que “a decisão [de invasão do Iraque] foi acertada, que o mundo e o Iraque estão melhor sem Saddam Hussein e que se estão a tirar lições do erros cometidos. O mundo continua perigoso, mas ter cedido seria pior”.
Certamente que o mundo, e o Iraque em particular, estão melhor sem Saddam Hussein. Mas há que perguntar, primeiro que tudo, “cedido” a quê? Em que é que Saddam e o seu regime, perfeitamente aniquilados militar e politicamente representavam uma ameaça para o mundo. Depois há que referir que as tais “lições que se estão a tirar” têm um preço humano demasiado elevado. Mas claro, são apenas iraquianos… outro tipo de reflexão não seria de esperar de JMF… conhecido pelas suas posições neo-conservadoras.
Pelo menos tem o mérito de reconhecer que “a invasão do Iraque (…) trouxe-me algumas surpresas desagradáveis”. Apenas é lamentável que não tenha tido na altura a visão geo-política para antever essas surpresas… é que quase tudo o que se passou era bastante previsível. Tem ainda a lata de escrever que “qualquer decisão política é tomada face aos dados conhecidos à época e, segundo, que existia então um grande consenso sobre as armas iraquianas.” (!!!). Quando se sabe perfeitamente (hoje, como se suspeitava já na altura) que a decisão de invadir o Iraque foi tomada com base em “evidências” e informações deliberadamente “fabricadas” e “inventadas” para servir o objectivo traçado pela administração Bush e já perfeitamente estabelecido de invadir o Iraque. Porque Bush julgava necessário na altura fazer alguma coisa para vingar o 11/9 e resgatar o orgulho, tornando-se num herói, o que lhe valeu, digamos, a reeleição em 2004... O que é evidente é que o Iraque não constituía na época nenhuma ameaça para a segurança regional e muito menos mundial. É óbvio que “o Iraque atraiu jihadistas de todo o Mundo” e contribuiu para reforçar a força e campo de actuação da Al Qaeda e congéneres, mas tudo isso era já por demais previsível. Tudo isso é bastante óbvio e consensual hoje, até mesmo nos Estados Unidos, onde 70% da população está hoje contra a guerra do Iraque e crê que foi um mau negócio para os Americanos (com algumas excepções, claro, como os fabricantes de armamento militar ou certas empresas que se instalaram no Iraque e enriqueceram, mas essa é outra história…). Mas O JMF e outros continuam a achar que não, que o mundo é hoje um lugar mais seguro, porque Saddam está na prisão. Mesmo se a História ainda não escreveu as últimas páginas sobre o Iraque, equivocam-se redondamente, pois o mundo não é hoje um lugar mais seguro (como o provam vários atentados cometidos um pouco por todo o mundo) e o Iraque não está melhor do que há três anos atrás.
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