24 janvier 2006

Eleições presidenciais em portugal 2006

Eleições presidenciais em Portugal 2006

E pronto, Cavaco Silva ganhou. Não foi a direita que ganhou nem a esquerda que perdeu, foi Cavaco Silva quem ganhou. Como era de esperar, ele ganhou, logo à primeira volta, com mais de 50% dos votos (embora talvez menos do que as sondagens lhe auguravam). Nenhuma novidade, pois já se esperava há pelo menos dois meses. O povo português pode finalmente respirar pois termina finalmente uma campanha longa e chata e o país pode voltar à "normalidade"...

E porque ganhou Cavaco Silva? Porque se apresentou como candidato supra-partidario (excelente estratégia mas nem sequer o foi pois Cavaco é assim mesmo), sem esperar apoios partidários, que acabaram por vir, pois os líderes dos partidos de “direita” foram inteligentes e pragmáticos. Em segundo lugar, Cavaco Silva é sentido pelos portugueses como um homem do povo, honesto e trabalhador, directo, e não como um desses políticos profissionais que parece não produzirem nada. E, finalmente, porque Cavaco é associado a tempos bons da economia portuguesa, de crescimento, positivos, em que os portugueses acreditavam num futuro melhor. Não interessa já o porquê da situação actual e porquê essas promessas de mais desenvolvimento não foram ainda cumpridas, mas Cavaco teve uma atitude positiva e politicamente correcta nesta campanha e o resultado está à vista.

Efectivamente, estas eleições foram reveladoras de como os portugueses estão cansados de partidos. Como escrevia Antonio Barreto hoje no dn (http://dn.sapo.pt/editorial/index.html), "O primeiro e o segundo candidatos mais votados foram os mais independentes, talvez os mais populistas, mais próximos dos movimentos sociais, mas... contra ou à margem dos partidos instalados. Que daí não venha mal ao mundo: pode ser que os partidos aprendam!" E como escreveu também J.M Fernandes no Publico (www.clicx.publico.pt), “O segundo e mais importante factor (desta eleição) foi o ter revelado a dimensão do mal-estar existente entre o eleitorado face às hierarquias partidárias, ao aparelhismo e ao clientelismo tentacular (…)”.

Aliás mesmo Manuel Alegra, contra a orientação do partido socialista, fez melhor do que o candidato oficial dos socialistas, o que é também sintomático deste divorcio entre o povo e os partidos políticos.

O que os portugueses gostariam agora de ver é um trabalho de colaboração, de conjunto, um empenhamento mútuo de Cavaco e Sócrates, em governar bem o pais e resolver os problemas, tomar as melhores decisões e imprimir um novo rumo e impulso ao país. O que os portugueses gostariam certamente de ver é todos os partidos fazerem o mesmo no Parlamento e na vida pública do país, no Governo e na oposição. Os partidos têm-se equivocado nas suas lutas ultimamente. Não é a luta contra o adversário, contra o outro partido, da outra cor, que interessa. Os objectivos da existência dos partidos e da sua acção deveriam ser o governo do país, a resolução dos problemas que permita aos portugueses e a Portugal desenvolver-se e melhorar o nível e a qualidade de vida dos habitantes. Creio ser isso que os portugueses genuinamente desejam e não lutas e querelas partidárias e palacianas, não as lutas passadas entre esquerda e direita. Já não há “pachorra” para isso. E os partidos que não entenderem isso, os lideres que não o entenderem, não só estarão a prestar um mau serviço ao país e aos portugueses, estarão também a prestar um mau serviço ao seu partido. Como aliás Eduardo Lourenço escreveu no Publico na semana passada, Mário Soares também se terá enganado no combate. O mundo de hoje não é mais o dos anos 70 ou 80 e a dicotomia entre esquerda e direita fazem cada vez menos sentido, pelo menos da forma maniqueísta como alguns líderes ainda insistem em apresentá-la hoje (veja-se por exemplo o discurso triste de Louça na noite da derrota).

Cavaco Silva, no seu discurso, falou como o Presidente que os portugueses esperam, alguém sério, honesto e trabalhador. Claro que não há que esperar milagres pela simples eleição de Cavaco, o sistema presidencial em Portugal é o que é (e ainda bem) e quem tem de governar é o governo. Mas uma boa colaboração entre as instituições é necessária, no mínimo para alcançar uma imagem de estabilidade positiva para o mundo, o país e os agentes económicos. E há muitos problemas e questões para resolver. Os tempos que se avizinham não vão ser fáceis nem para Cavaco nem para Sócrates (sobretudo para este) mas espero que tanto um como o outro não desbaratem o capital político que lhes foi depositado nas últimas eleições, o país necessita e agradeceria.

1 commentaire:

Anonyme a dit…

Je suis complètement d'accord avec ce que tu dis.